Guerras da Cerâmica Coréia-Japão

Em 1592, o senhor feudal (daimyô) Toyotomi Hideyoshi invadiu a Península Coreana como parte do seu projecto de unificação do arquipélado japonês, gerando um conflito conhecido como Guerra de Imjin, que durou de 1592 a 1598. Durante este período, uma estimativa de 50.000 pessoas foram capturadas e trazidas para o Japão como prisioneiros de guerra, incluindo ceramistas e outros artesãos especializados. A sua presença contribuiu fortemente para o desenvolvimento da arte japonesa, particularmente na ilha de Kyushu, onde muitos deles estabeleceram ateliês de cerâmica.


Segundo a lenda, foi um desses ceramistas coreanos, Yi Sam-pyeong, o primeiro a descobrir depósitos de caulim em território japonês, na jazida de Izumiyama, localizada na cidade de Arita, província de Saga. Caulim é uma rocha feldspática essencial para a produção de porcelana, um tipo de cerâmica branca, translúcida, e altamente valorizada no mundo inteiro, especialmente na Europa, onde o processo de produção só foi descoberto no século XVIII. A descoberta de caulim em Izumiyama despoletou a primeira produção de porcelana no Japão em 1616, quatro séculos depois da China ter iniciado a produção do chamado “ouro branco”. A partir de meados do século XVII, com o declínio das exportações chinesas devido a guerras civis, a porcelana de Arita foi exportada para a Europa através da Companhia Holandesa das Índias Orientais (VOC) desde o porto de Imari, ficando assim conhecida como cerâmica Imari.


No entanto, foi numa pequena aldeia nas montanhas localizadas a nordeste de Arita que os segredos da luxuosa porcelana Nabeshima, patrocinada pelos senhores feudais de Nabeshima, foram guardados. Em Okawachiyama, artesãos altamente qualificados produziram porcelana requintadamente decorada, queimada em fornos noborigama, para uso exclusivo da nobreza japonesa, que mantinham os seus segredos a salvo ao proibir os ceramistas de deixarem a vila.


Na margem oriental do rio Imari em Okawachiyama, um túmulo em forma triangular lembra-nos as contribuições dos artesãos anônimos, muitos deles prisioneiros de guerra trazidos da Coreia durante a Guerra de Imjim (também conhecida como Guerras de Cerâmica), para o desenvolvimento artístico japonês. Actualmente, existem ainda cerca de 30 fornos que continuam a produzir porcelana na região.

Deixe um comentário