A Natureza e Hayao Miyazaki

Hayao Miyaziki dispensa, certamente para os “japonófilos”, grandes apresentações. Renomado diretor de cinema de animação há mais de 30 anos, realizou títulos tão conhecidos como “Totoro” (1988), “A Viagem de Chihiro” (2001) e, mais recentemente, “Ponyo”  (2009). Quem já assistiu a pelo menos dois filmes de Miyazi, pode perceber como a “temática ambientalista” é algo recorrente.

Miyazaki na sede do Studio Ghibli, onde habita uma estátua do robot de “Laputa” (1986)

Apesar de recusar a “etiqueta ecologista”, a maioria dos filmes do diretor transmite uma mensagem que alerta para a necessidade de preservação das florestas ancestrais e dos traços da cultura tradicional japonesa que se conectam com esse esforço. Exemplos disso são a frequência de referências ao animismo e ao xintoísmo, crenças existentes no Japão desde épocas pré-históricas, presentes especialmente nos anime “Totoro” (1988), “Princesa Mononoke” (1998) e “A Viagem de Chihiro”.

Árvore de cânfora em “Totoro” (1988)
Espírito da Floresta (Shishigami) de “Princesa Mononoke” (1998)
Pequenos santuários shinto em “A Viagem de Chihiro” (2001)

Aos paulistas interessados na temática, aguardem! Em breve, quem vos escreve virá com uma interessante novidade “miyazakiana”… Quem sabe, talvez um conjunto de palestras com temas relacionados a Hayao Miyazaki? Shhhhhhhhh…. O segredo ainda está guardado nas brenhas sombrias da floresta sagrada protegida pelos amáveis mas temíveis kodama.

Kodama, pequenos espíritos que habitam as árvores sagradas de “Princesa Mononoke” (1998)

De Tokyo ao Mondego: um documentário de Aya Koretzky

Em um dos meus últimos dias em Lisboa, um daqueles dias fastidiosos e nostálgicos de frio e chuva persistente, tive uma feliz surpresa. Graças ao  aviso oportuno da minha mãe, liguei a televisão na RTP2 pensando assistir algum filme japonês que combinasse com  aquele clima quase mordaz.

Para minha grande surpresa, o filme contava a história de uma menina que, com nove anos, se mudou de Tóquio para a região portuguesa do Mondego, junatemente com o pai japonês e a mãe belga.  A menina é Aya Koretzy, diretora do filme e vencedora do Prémio Doclisboa 2011 e do Prêmio Revelação do Festival de Cinema Luso-Brasileiro 2011, pelo seu primeiro filme como diretora “Yama no Anata” (“Para Além das Montanhas”).

O documentário mostra testemunhos dessa experiência diaspórica desde Tóquio, uma das maiores metrópoles do mundo, para uma velha casa sem luz ou água em uma pacata região perto de Coimbra, no vale do rio Mondego. Em forma de fotos e vídeos antigos da família, paisagens nebulosas e montanhosas, cartas trocadas com os amigos que ficaram e testemunhos paterno e materno, fui convidada a entrar numa viagem pessoal, poética e contemplativa.

“Submerjo nas paisagens do Mondego para onde vim morar com os meus pais em criança, deixando para trás Tóquio, a cidade onde nasci. Através da leitura de cartas que troquei com os amigos e a família que permaneceram no país, reflito sobre a nossa vinda para Portugal e relembro o passado na tentativa de reter a memória efémera, numa viagem com os espíritos que permanecem comigo.” – Aya Koretzky 
 

Aya  Koretzy, 29 anos, belgo-nipo-portuguesa, vive e trabalha entre Lisboa e Paris, onde cursa o mestrado em Cinema na Sorbonne. “Yama no Anata”, produzido em 2011, foi exibido no cinema São Jorge, em Lisboa, a 14 de Abril deste ano e passou na televisão pública portuguesa (RTP2) no dia 25 do mesmo mês, data em que se comemora em Portugal o fim da ditadura, comumente conhecido como Revolução dos Cravos.

“Para Além das Montanhas” passará possivelmente em algumas salas de cinema em Portugal e mais algumas vezes na televisão portuguesa. Resta desejar que saia também em DVD para que possamos assistir aqui no Brasil!

“A lyrical ode to what lies beyond, given texture from inky letters and the pixels of home video but sung by goats and crows, Aya Koretzky’s extraordinary debut, submerges us in the Mondego River, invoking spirits and interrogating memories to ask pertinent questions about coming and going and home.” – International Film Festival Rotterdam
 
 

O Japão em 4 Cinemas: exposição e mostra de filmes no Sesc Pinheiros

Foi ontem, dia 3 de Junho, a abertura da exposição “O Japão em 4 Cinemas” no Sesc Pinheiros. Antes da abertura da exposição propriamente dita, a organização passou o documentário “Japão em 4 cinemas” (Brasil, 2011, 40 min), realizado pelos curadores do evento Luis Carlos Pavan e Careimi Ludwig Assmann. Debruçando-se sobre as quatro antigas salas de cinema do bairro da Liberdade (Cine Niterói, Cine Tokyo, Cine Jóia e Cine Nippon), o vídeo mostrou depoimentos que resgatavam a memória afetiva de quem vivenciou a experiência cinematográfica nesses quatro cinemas.

Em cada uma dessas salas o público podia assistir filmes japoneses de diferentes gêneros, produzidos por estúdios japoneses distintos. No antigo Cine Niterói, localizado na Rua Galvão Bueno onde hoje se situa o trecho da Radial Leste, passavam maioritariamente filmes do estúdio Toei, com uma predominância de filmes de época e dramas históricos da época dos samurais. No Tokyo, fundado em 1954 na Rua São Joaquim, onde é hoje uma Igreja Evangélica, o público era maioritariamente feminino pela exibição das produções da Nikkatsu. Eram os chamados “filmes para chorar”, com dramas de juventude, mas também dramas históricos e comédias, entre outros. Já o Cine Jóia, fundado em 1958, exibia filmes mais “Lado B”, de temática violenta ou erótica. Por fim, o Nippon, fundado em 1959 na Rua Santa Luzia, onde é hoje a sede da Associação Aichi Kenjin, passava os filmes do estúdio Sochiku, com comédias, musicais, filmes de yakuza e o cinema realista de Yasujiro Ozu e Mikio Karuse (o chamado género shomin-geki).

Das quatro salas de cinema, a do Cine Niterói era a maior e mais bem equipada. O cinema localizava-se num prédio de vários andares, onde existia também um hotel, um restaurante e um salão de festas. Inaugurado em 1953, o Cine Niterói permaneceu na Galvão Bueno até 1968, ano em que se mudou para a Avenida Liberdade, devido à demolição do antigo prédio para construção da rodovia. Mas aí não permaneceu muito tempo. A sala e o movimento de pessoas eram menores. Em 1984 o Cine Niterói foi fechado. As demais salas fecharam também na mesma época.

Mais informações sobre o Cine Niterói podem ser encontradas na página da web escrita por Francisco Noriyuki Sato.

Um parêntesis: Ao assistir o documentário senti grande tristeza ao perceber como a evolução urbana da São Paulo dos anos 60 (e não só) se deu em função de interesses que não contemplavam a atividade cultural da cidade. Como o caso do Cine Niterói, por exemplo, que apesar de atrair grande movimento para o bairro da Liberdade, promovendo um espaço de troca e convívio cultural, foi demolido para construção de uma rodovia, a Radial-Leste, destruindo uma parte importantíssima da memória da cidade. A sua destruição criou não só um vazio cultural na vida da cidade, mas também, como mostrou o documentário, um vazio na vida de cada uma das pessoas que frequentavam aquele espaço. Para os imigrantes japoneses, essas salas de cinema eram dos poucos locais da cidade onde podiam se comunicar na sua língua materna, saber as novidades do país de origem e simplesmente se sentir em casa.

Depois do término do documentário e muitos aplausos, a exposição com cartazes originais dos filmes japoneses exibidos naqueles cinemas entre as décadas de 50 e 80 foi aberta. Para além dos posters, a exposição possui uma sala onde o público podem assistir a alguns filmes que passavam nesses cinemas, e expositores com objetos tirados da cabine do projetista.

Foto de celular da exposição "O Japão em 4 Cinemas".

O evento inclui ainda, para além da exposição, uma mostra de filmes japoneses de diretores como Yasujiro Ozu, Kenji Mizoguchi, Mikio Naruse, Shohei Iamamura, entre outros.

Mais informações:

Exposição “O Japão em 4 Cinemas”
03/06 a 17/07
Terça a sexta das 10h30 às 21h30
Sábados, domingos e feriados das 10h30 às 18h30.

Mostra de filmes (sempre às terças)
07/6 a 26/7
Programação aqui.
 
Serviço:
SESC Pinheiros
Rua Paes Leme, 195 – Pinheiros 
Tel: 11 3095-9400
Entrada gratuita

Tokyo Sonata e a família japonesa contemporânea

Dirigido por Kiyoshi Kurosawa em 2008, o filme Tokyo Sonata sai da linha de gênero do autor (maioritariamente filmes de terror com generosas pitadas de comédia e surrealismo) para retratar o Japão contemporâneo, centrando-se nas relações familiares e conjugais.

No entanto, Kurosawa já antes se debruçara sobre a falta de comunicação entre casais em “Ilusões Inúteis” ( Ôinaru gen’ei, 1999), filme no qual retrata a vida cotidiana de um jovem casal e suas tentativas vãs de preservar a relação, em meio a situações que carecem de qualquer senso de realidade.

Apesar de não diretamente relacionado ao gênero comumente denominado de “cinema fantástico”, Tokyo Sonata não carece da sua parte de surrealismo e absurdo, no momento em que atinge o clímax e se tenta uma resolução para o final.

Podemos dizer que a maioria dos filmes de Kiyoshi Kurosawa retratam a forma como a sociedade modela o indivíduo, indivíduos obcecados por algum projeto excêntrico ou como os mecanismos sociais se desintegram quando confrontados com o todo irracional. E a temática de Tokyo Sonata, ainda que de cariz familiar, engloba tudo isso.

Tokyo Sonata retrata então o cotidiano de uma “típica” família japonesa, partindo da situação de inesperado desemprego do pai para desenrolar a trama. Kurosawa faz uma caricatura da atual situação do Japão, caracterizada por uma crescente recessão e, consequentemente, pela perda da estabilidade laboral.

O desmantelamento da “empresa-família”, o desemprego, a baixa taxa de natalidade e o completo desmantelamento da estrutura familiar tradicional, são questões que têm afligido o Japão desde meados dos anos 90 e que continuam se agravando até aos dias de hoje.

Kurosawa parte dessa conjuntura econômica e social do Japão para tratar sobre família, centrando-se nas suas relações internas e no questionamento de papéis sociais pré-estabelecidos. Ao mostrar uma relação conjugal completamente segregada e separada por papéis sociais de gênero bem definidos e com limites completamente rígidos, Tokyo Sonata permite uma profunda discussão acerca das relações familiares, de casamento e gênero no Japão de hoje.

Ficha Técnica:
Título:トウキョウソナタ (Tokyo Sonata)
Direção: Kiyoshi Kurosawa
Roteiro: Kiyoshi Kurosawa, Max Mannix, Sachiko Tanaka
Elenco: Teruyuki KagawaKyôko Koizumi and Yû Koyanagi
Ano: 2008
 
Trailer Oficial:
http://youtu.be/gI9AoCOej38

150 Anos Portugal X Japão

 

Neste ano de 2010 que está já chegando ao fim, comemoram-se os 150 anos do Tratado de Paz, Amizade e Comércio entre Japão e Portugal. Para a ocasião a Embaixada do Japão em Lisboa promoveu uma série de eventos, que aconteceram ao longo de todo o ano por todo o país, o último dos quais no próximo dia 17 de Dezembro na cidade da Amadora. Ou seja, por azar e para minha grande decepção, cheguei em Lisboa já no fim das celebrações…

No site da embaixada é possível consultar o calendário dos eventos: http://www.pt.emb-japan.go.jp/2010_PT_JAPAO/calendario_pt_japao_2010.html

Fico especialmente triste por ter perdido a exposição Oriente/ Ocidente/ Miscigenações, principalmente porque foi realizada precisamente na semana que eu vim para Lisboa, entre 5 e 12 de Fevereiro. Aquela incluiu demonstrações e workshops de artes tradicionais japonesas como butoh, sumi-e e ukiyoe na Faculdade de Belas Artes de Lisboa, visitas guidas ao Museu do Oriente e ciclos de cinema japonês na Cinemateca Portuguesa.

Outro evento interessante parece ter sido o ArteXGastronomiaXEspaço realizado no Edifício Tezenis Caravela em Lisboa, entre 11 de Fevereiro e 15 de Março e que compreendeu apresentações de arte contemporânea, como pintura, gastronomia, arquitetura e desenho, por artistas japoneses residentes em Portugal.

Mais um acontecimento imperdível desta comemoração foi com certeza a mostra de cinema Kurosawa e a Inspiração Noh, onde foram exibidos vários filmes do diretor que demonstram a influência do Teatro Noh, como ‘Kagemusha’ (1980), ‘O Trono de Sangue’ (1957) e ‘Ran’ (1985). A mostra aconteceu nos dias 27 e 28 de Março no Museu do Oriente.

Em Abril e Maio O Japão Num Piscar de Olhos ofereceu um panorama das relações luso-nipônicas através da arte, com seis sessões que abordaram desde a Arte Namban até à Arquitetura Contemporâena no Japão. Mais um evento realizado no incrível espaço do Museu do Oriente, entre 10 de Abril e 22 de Maio.

Quase no mesmo período, entre 16 de Abril e 9 de Maio, e no mesmo local, aconteceu a Festa do Japão, com exposições, apresentações e workshops dedicados às artes tradicionais japonesas (omocha, ikebana, furoshiki, origami, caligrafia, cerimônia do chá, teatro noh, kyogen) e à cultura pop (cosplay e manga).

E, falando de chá, o Museu Nacional do Azulejo recebeu no dia 21 de Julho o Grande Mestre da Casa Urasenke, Sen Soshitsu XVI, para uma demonstração de chado (cerimônia do chá).

Já na cidade do Porto realizou-se em 23 de Setembro uma palestra intitulada Culinária Japonesa e Hábitos Alimentares no Japão – A Influência Portuguesa na Gastronomia Japonesa, pelo Ministro da Embaixada do Japão, Sr. Tatsuo Arai, no âmbito da Japan Week, semana dedicada à cultura japonesa, no Porto.

E para quem quiser saber mais sobre Arte Namban, o Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto, possui uma coleção de biombos, à qual se realizou uma visita guiada nos dias 2, 9 e 16 de Novembro. Para quem perdeu a visita, como eu, sugiro aproveitar as férias natalinas para visitar o museu e espreitar os biombos Namban ali expostos.

Outro ciclo de cinema, desta vez dedicado aos excêntricos Nagisa Oshima e Takeshi Kitano, aconteceu na Cinemateca Portuguesa entre 22 e 30 de Novembro.

Já na Fundação Calouste Gulbenkian, realizou-se nos dias 9, 16, 23 e 30 de Novembro um ciclo de conferências dedicado à arte japonesa, com temáticas como a influência dos jesuítas no Japão, a arte da laca (ou ‘lacquer’) na coleção da Gulbenkian, entre outras.

E, para finalizar, uma última mostra de cinema, dedicada ao diretor Yasuzo Masumura, está acontecendo desde 18 de Novembro, na Escola Superior de Teatro e Cinema, na Amadora. Os últimos dois filmes da mostra serão exibidos ainda esta semana. Para quem se interessar seguem as informações disponíveis no site da Embaixada do Japão em Portugal:

Yasuzo Masumura – Ciclo de Cinema

Yasuzo Masumura nasceu em Kofu, em Honshu. Depois de ter desistido de um curso de direito, na Universidade de Tokyo, trabalhou como director-assistente nos estúdios Daiei, mais tarde regressando à universidade para estudar filosofia; licenciou-se em 1949. Recebeu uma bolsa de estudo permitindo-o estudar filmografia em Itália, no ‘Centro Sperimentale di Cinematografia’, sob orientação de Michelangelo Antonioni, Federico Fellini e Luchino Visconti. Regressou ao Japão em 1953, e a partir de 1955 trabalhou como director secundário em filmes produzidos por Kenji Mizoguchi e Kon Ichikawa, antes de realizar o seu próprio filme, Kisses, em 1957. Durante as três décadas seguintes realizou cerca de 60 filmes, em géneros variados. O seu trabalho é destacado pela sátira negra e estilo fluído. Alguns dos seus filmes conhecidos são: Red Angel, Black Test Car, Giants and Toys, Blind Beast e Hoodlum Soldier.

Programa:
< 18 Nov., 17h15 – Les Baisers – 1957< 19 Nov., 14h00 – Giants and Toys – 1958
< 25 Nov., 17h15 – Le Gars des Vents Froids – 1960
< 26 Nov., 14h00 – A Wife Confesses – 1961
< 2 Dez., 17h15 – Le Mari était là – 1964
< 3 Dez., 14h00 – La Femme de Seisaku – 1965
< 9 Dez., 17h15 – Manji – 1964
< 10 Dez., 14h00 – The Hoodlum Soldier – 1965
< 16 Dez., 17h15 – Nakano Spy School – 1966
< 17 Dez., 14h00 – Red Angel – 1966

Local: Escola Superior de Teatro e Cinema, Avenida Marquês de Pombal, 22 B, na Amadora
Entrada Livre
Organização: Embaixada do Japão e Japan Foundation, com o apoio da Escola Superior de Teatro e Cinema.http://www.pt.emb-japan.go.jp/culturaeducacao11.html#masumura

Extreme Private Eros: Love Song 1974

Filmado a preto e branco, maioritariamente à base de equipamento caseiro, com momentos em que voz e imagem estão completamente discincronizados e algunas cenas desfocadas, inclusive, e felizmente, uma cena frontal de parto, Extreme Private Eros: Love Song 1974 é tão interessante quanto perturbante .

O filme documenta a trajetória de Miyuki Takeda, uma feminista radical de 26 anos, com a qual o diretor Kazuo Hara viveu durante 3 e teve um filho. O período do filme vai desde 1972 a 1974, durante o qual Hara retrata a vida da ex-mulher após a separação.

A trajetória de Miyuki vai desde mudar-se para Okinawa para morar com uma mulher, namorar um soldado negro norte-americano do qual engravida e trabalhar numa comuna de mulheres grávidas em Tóquio. Na cena mais chocante, filmada numa sequência única, frontal e sem cortes, Miyuki dá a luz uma criança mestiça sem qualquer ajuda e sem a presença de ninguém, a não ser o diretor e sua esposa Sachiko, que se limita a segurar o microfone do lado dela.

Perante isto, não admira que o filme tenha sido considerado ofensivo para a sociedade japonesa e alvo de críticas. Mas a cena final, de uma banheira tipo ofuro cheia de bebés e recém-nascidos, que tomam banho com uma das mães da comuna de mulheres, abafa qualquer impulso preconceituoso que possa ter sido sentido ao longo do filme e remete-nos para um sentimento positivo e de aceitação, possibilitando novas visões e um significado mais profundo para a mensagem de Hara.

Cena em que Chichi, uma menina de 14 anos dançarina  num clube noturno de Okinawa que Miyuki frequenta, relata a sua desistência da escola.