Pioneiras da Cerâmica no Japão

Nas sociedades primitivas, a cerâmica  sempre foi uma atividade essencialmente feminina, utilizada na criação de utensílios domésticos. No entanto, com a introdução do torno de oleiro e seu desenvolvimento como um processo de produção em massa, a cerâmica foi-se tornando um trabalho masculino, motivado pela força física e habilidade técnica. Assim, foram delegados à mulher trabalhos servis e insignificantes do ponto de vista criativo. Esta situação era recorrente no mundo inteiro mas permaneceu como regra no Japão até meados do século 20.

Uma cena representativa deste papel da mulher na cerâmica pode ser encontrada no famoso filme de Kenji Mizoguchi de 1953, Contos da Lua Vaga (Ugetsu Monogatari). O filme conta a história de dois camponeses do Japão do século 16, cuja grande ambição é enriquecer. O ceramista Genjuro planeja vender suas cerâmicas a altos preços na cidade local e seu cunhado Tobei sonha em tornar-se samurai. Numa das cenas iniciais, Genjuro tenta terminar suas cerâmicas no intuito de fazer grandes lucros em sua próxima viagem à cidade e sua esposa, Miyagi, ajuda-o rodando o torno de oleiro. Era uma situação comum no Japão as esposas serem as ajudantes do ceramista homem.

No entanto, algumas mulheres foram uma exceção no mundo predominantemente masculino da cerâmica japonesa e a executaram como expressão criativa.

A monja budista Otagaki Rengetsu (1791-1875) de Kyoto, é conhecida como um dos maiores poetas japoneses do século 19, tendo-se destacado também na pintura, caligrafia e cerâmica. Nascida de uma família de samurais, foi adotada pela família Otagaki ainda criança. Com 7 anos tornou-se dama de companhia no castelo de Kameoka, onde permaneceu até aos 16 anos, quando se casou. Com 32 anos seu marido morreu e ela juntou-se ao templo Chion-in como monja, adotando o nome budista de Rengetsu (Lua de Lotus), onde ficou até aos 74 anos. Depois disso estabeleceu-se em Jinko-in, falecendo com 84 anos de idade. Suas cerâmicas são características pela decoração com poemas da sua autoria em bela caligrafia.

Outra pioneira da cerâmica japonesa foi Hattori Tsuna, de Tokyo. Usando Koren como nome artístico, fabricou à mão caixinhas, figurinhas, pesos de papel e contentores de incenso em cerâmica. Popular entre colecionadores Europeus, sua cerâmica foi exportada para vários lugares do mundo. A peça da imagem abaixo pertenceu ao romancista francês Edmond de Goncourt (1822-1896).

A partir da década de 50, mais mulheres começaram a entrar no mundo da cerâmica japonesa e destacar-se nele, graças à criação da cerâmica de estúdio (studio pottery), introduzindo o conceito de um trabalho individual que pode ser desvinculado da tradição.

Takako Araki (1921), Asuka Tsuboi (1932), Kiyoko Koyama (1935), Eiko Kishi (1948), Etsuko Tashima (1959) e Fuku Fukumoto (1973) são algumas das ceramistas japonesas de grande destaque nos dias de hoje.

No Brasil, a pioneira em cerâmica japonesa foi Shoko Suzuki, a quem já dedicamos um post (para ler clique aqui).